Reserve um segundo para imaginar um edifício ou um espaço. Provavelmente, você está imaginando superfícies retangulares planas e linhas retas. Sejam paredes, vigas ou janelas, a maioria dos elementos arquitetônicos vem em formas ortogonais padrão e altamente práticas. No entanto, a pandemia lançou luz sobre designs que não são apenas funcionais, mas também melhoram nosso humor e bem-estar. Nesse sentido, o poder das superfícies curvas e fluidas é incomparável, o que explica por que elas estão voltando como uma tendência de design moderno. Adotar belas formas inspiradas na natureza, como curvas orgânicas, energizam os ambientes e fazem os usuários se sentirem bem. Na verdade, os neurocientistas mostraram que essa afeição está programada no cérebro; em um estudo de 2013, descobriram que os participantes eram mais propensos a considerar um espaço bonito se fosse curvilíneo em vez de retilíneo. Em suma, os humanos adoram curvas.
Mas além de sua beleza – e ao contrário do senso comum – superfícies curvas também podem adotar muitas funções. Podem adicionar movimento, criar zonas criativas, atuar como peças de mobiliário e até criar paredes autoportantes. E graças a novas tecnologias como impressão 3D e BIM, nunca foi tão fácil visualizar e construir geometrias curvas complexas. No entanto, o conhecimento técnico em materiais ainda é crucial para alcançar bons resultados.
Com isso em mente, exploramos abaixo técnicas inovadoras usadas para dobrar materiais de construção tradicionais. Para inspirar os arquitetos, apresentamos uma compilação de belos projetos onde paredes curvas, tetos e divisórias ganham vida para criar espaços graciosos e dinâmicos.
Madeira
Como a arquitetura de madeira geralmente usa vigas e painéis retos e de tamanho padrão, pode ser complexo dobrar. Mas com técnicas tradicionais ou modernas, é possível atingir a curvatura desejada.
A Curvatura a Vapor, por exemplo, consiste em aquecer a madeira em uma estufa a vapor (steambox) até que ela se torne maleável e depois prendê-la em um molde para que, depois de resfriada, permaneça na forma curvada. Para peças estruturais grandes, utilizar Madeira Laminada Colada é o método mais popular. Ao colar segmentos de madeira seguindo um molde curvo, o material pode ser dobrado. Por outro lado, com a técnica de Kerfing, grandes peças não estruturais são curvadas com cortes espaçados. Além disso, pesquisadores desenvolveram um novo método que aproveita o inchaço e a contração naturais da madeira para dobrar os painéis.
Wood Ribbon Apartment / Toledano+Architects
A madeira curvada oferece muitas possibilidades criativas. Neste caso, uma fita de madeira feita com moldes curvos foi incorporada como uma escultura habitável que dissimula a entrada dos cômodos e cria nichos para armazenamento.
Sculptform Design Studio / Woods Bagot
Neste projeto, os métodos Steam Bending e Kerfing foram usados para mostrar a flexibilidade das ripas de madeira, gerando transições curvas perfeitas entre paredes e tetos.
Criadas com fabricação digital e carpinteiros habilidosos, as fitas de compensado torcem e giram dentro do espaço, transformando-se em estantes de exibição, espaços de estar e áreas de reunião.
Concreto
O concreto não é particularmente conhecido por sua capacidade de dobrar. Independentemente disso, o método mais tradicional envolve o uso de fôrmas curvas, obtidas dobrando madeira ou compensado no raio desejado.
Mas com tecnologias mais avançadas, é possível criar geometrias mais complexas sem comprometer a qualidade e o desempenho. Inovações como BIM, Manufatura Auxiliada por Computador (Computer Aided Manufacture - CAM) e moldes reconfiguráveis roboticamente permitem a produção em massa de concreto pré-moldado curvado. A impressão de construção 3D também se mostra muito promissora, sendo capaz de criar praticamente qualquer forma curva por meio de um processo controlado por computador. Outras inovações recentes incluem Mesh Mold e Curvecrete. Enquanto o primeiro é uma malha metálica reforçada fabricada roboticamente que é preenchida com concreto, o segundo usa uma máquina de molde ajustável paramétrica para fabricar painéis de concreto curvos.
Usando moldes curvos, o projeto apresenta uma combinação de paredes arredondadas que criam um elemento escultórico fluido que guia os visitantes pelas áreas de exposição.
Wormhole Library / MAD Architects
Moldada a partir de concreto branco com fôrmas cortadas em CNC e impresso em 3D, esta estrutura orgânica multifuncional atua como uma unidade dinâmica com sua forma contínua.
Kouhsar Villa / Next Office-Alireza Taghaboni
Para construir as paredes curvas, os arquitetos lançaram concreto em uma estrutura de suporte feita de camadas de chapas de poliestireno e malha em torno de uma estrutura de madeira fresada por CNC.
Vidro
Surpreendentemente, o vidro curvo não é tão complicado e demorado quanto costumava ser, e pode realmente ser muito eficiente e resistente quando usado em aplicações de envidraçamento estrutural.
As principais tecnologias atuais são: dobra e têmpera, dobra a quente, dobra a frio e dobra laminada. No processo de dobra e têmpera, o material é inserido em um forno de dobra de vidro que aquece a mais de 630°C, curvando o painel em seu raio desejado. Na dobra a quente, o fabricante utiliza moldes aquecidos a 580-600°C, muitas vezes usando uma prensa de dobra mecânica. Realizada em temperaturas naturais, a dobra a frio consiste em colar ou aparafusar o vidro em uma moldura para dobrá-lo mecanicamente. Por outro lado, para o vidro laminado dobrado, o sanduíche de vidro é curvado com uma fixação mecânica antes do processo de autoclave.
Envolvida em torno de uma oliveira central, esta propriedade utiliza janelas curvas que maximizam a luz do dia e criam um espaço de vida fluido e aberto.
Nesta casa contemplativa, uma parede de vidro curvo foi integrada para evitar a segmentação em suas bordas e visualizar o espaço através de uma lente.
Kering Offices / FR-EE / Fernando Romero Enterprise
Gerando um espaço colaborativo e dinâmico, as divisórias internas do escritório foram construídas com vidros transparentes e curvos em seus cantos.
Superadobe
Enquanto madeira, concreto e vidro ainda são usados principalmente em edifícios retangulares, outros materiais – especialmente materiais naturais usados em projetos de permacultura – podem realmente funcionar melhor em superfícies curvas devido à distribuição de carga.
Por exemplo, a técnica Superadobe de Nader Khalili é muito eficaz para desenhos curvos. Inspirada na arquitetura tradicional da terra e adaptada ao uso moderno, utiliza sacos de areia preenchidos com terra umedecida e dispostos em camadas ou longas bobinas. Enquanto o arame farpado é colocado entre cada camada para atuar como argamassa e reforço, o gesso é frequentemente adicionado para proteger da erosão. Como as longas bobinas de sacos de areia proporcionam compressão e o arame farpado aumenta a resistência à tração, o material é ideal para edifícios em forma de cúpula, onde o peso é distribuído igualmente ao redor de cada seção circular. Em uma só peça, isso proporciona grande estabilidade e resistência sem precisar de outros elementos estruturais.
Presence in Hormuz / ZAV Architects
Neste centro cultural, o SuperAdobe foi combinado com uma estrutura de aço revestida com cimento, criando superfícies curvas, sustentáveis e recicláveis.
Presence of Hormuz 2 / ZAV Architects
Este projeto também usou a mesma técnica inovadora, desta vez para construir cúpulas em pequena escala usando terra batida e areia.
Langbos Children’s Centre / Jason Erlank Architects
Da mesma forma, o SuperAdobe foi usado neste projeto ecologicamente correto, resultando em fortes estruturas de cúpula baseadas em geometria simples e princípios de engenharia.